Na pintura de André Schneck, não há distinção entre corpo e paisagem. A figura humana e a natureza não são opostos, nem mesmo complementares: são uma mesma coisa. Uma colina respira como um torso. Um rosto tem a mesma mineralidade que uma pedra antiga. A montanha não é palco: é sujeito. E o homem, em sua pele e em seu gesto, carrega a memória do terreno que pisa.
Esta fusão não é alegórica. Na obra de Schneck, a matéria pictórica dá conta de uma unidade ontológica. A cor não é uma ferramenta decorativa ou expressiva: é uma substância comum. É o que faz um corpo e uma folha. É o que bate na carne e no galho. É o que une, na mesma temperatura, o vegetal e o humano.
O olhar que guia essas imagens é um olhar de espanto, de entrega, de profunda intimidade com o vivo. Schneck não retrata: se aproxima. Sua pintura observa, toca, ouve. Por isso, as figuras que emergem — sejam rostos humanos ou formas botânicas — não são oferecidas ao espectador, mas estão lá, presentes, completas, como se tivessem sido encontradas e não inventadas.
O cromatismo que percorre sua obra vem de uma relação íntima com o meio ambiente: é uma cor que pertence ao seu terroir, ao seu clima, à sua biografia. Cada tom é habitado por uma geografia emocional e física. E isso retorna aos seus quadros profundamente latino-americanos, não por um encontro cultural, mas por uma afinidade sensorial com a terra.
Na obra de André Schneck, a pintura é uma forma de comunhão. Um ato de fé em que o corpo e o mundo, longe de serem separados, são manifestações distintas de um mesmo mistério.
O desenho, neste contexto, não é uma prática auxiliar nem um estágio preliminar: é uma extensão natural do mesmo impulso. Se a pintura é o tronco principal de sua obra, o desenho é uma rede de galhos mais finos, mais próximos da borda, mas igualmente vivos. Eles não ilustram: eles continuam. São fragmentos orgânicos do mesmo corpo poético, regidos pelo mesmo clima sensorial, pela mesma lógica de fusão e pertencimento.